(Retrô)
Indecisos entre o algo e o nada, talvez tenhamos sido quase importantes um para o outro. Fomos quase algo que hoje é nada. Ou é algo. Talvez eu nunca entenda. Num momento quase tudo e no seguinte nada. Percebeu que nada nunca é quase, só é nada. Ponto. Tive nas mãos, segurei-o por alguns instantes. Mas nada. A gente tem que se sentir pronto, precisa enfiar os dois pés na lama e precisa continuar imerso quando o outro não está observando. Nem precisa querer, é só não conseguir em momento algum lutar contra. Eu quis algo. Quis protegê-lo e sabia que poderia fazê-lo mesmo quando não conseguia proteger sequer a mim mesma.
Fui acometida por uma catalepsia quase moral, ficar imóvel era uma dívida que eu precisava pagar à mim mesma. Precisava parar de escutar teu nome subindo as escadas, tocando no meu celular, trombando comigo na Augusta. Perdoe-me se precisei fazer de conta que nunca fomos parte um do outro. E se eu continuar fazendo: respira fundo e vive. Uma hora a gente se encontra e vai ser tudo igual e tudo completamente diferente. Depois se perde de novo, porque é provável que não sejamos mesmo um par. Vive.
Contabilizei se você mais curou do que abriu feridas, tive medo de saber o resultado.
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(SOBRE TUDO AQUILO QUE QUERO DIZER, MAS NÃO CONSIGO)
*O nó que sufoca a garganta aperta a veia até comprimir todo o sangue que ali há.
E é tão angustiante lutar contra aquilo que nos retira o ar, que acabamos permitindo nos deixar morrer pouco a pouco, gota por gota, entaldas entre o peito e a dor.
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(DOR)
* Paralisa tanto quanto curare ou choque térmico.
*Quando compramos nossa passagem para esta viagem já sabemos que não há volta. Mas: e existe mesmo o livre arbítrio?
Como um fio imaginário amarra cada uma de nossas vontades e desejos. Todas as nossas escolhas são marcadas e decididas por ele (e até mesmo o caminho que traçamos para chegar em algum lugar).
Não conseguimos dar o passo adiante- o caminho é estreito, aterrorizante!
Um eterno ciclo vicioso no qual tentamos escapar, mas sempre damos um jeito de nunca mais sair.
Antítese existencial, ou?
*O medo é um mal letal que nos consome dias, horas, minutos, segundos.
Quanto mais a gente foge, mais ele nos persegue.
Não há jeito: se ficar o bicho come, se correr o bicho pega.
*São todas as coisas numa só: a dor que sentimos no peito.
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(Bee)
Quando lutamos contra nós mesmos, somos os únicos a colecionar feridas. Até que ponto vale a pena ater-se ao caminho da menor-dor, do baixo risco e do conforto calculado? Você grita para si mesmo com tanta força essa mentira, que acaba por não ouvir o peito clamando por um segundo de atenção. Mas eu consigo ouví-lo, quando ele encosta no meu, e sigo aguardando o dia em que a tua garganta, de tão rouca, deixe chegar aos teus ouvidos o que para mim fica claro toda vez que teus olhos fecham antes dos meus: é recíproco.
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(02. 07)
Existem pessoas que acreditaram até o fim.
No entanto, agora, criticam outras que também acreditavam desde o início, alegando que jamais creram.
Não sei dizer se isso é a dor da decepção que lhes subiu à cabeça impedindo a passagem do ar para oxigenação cerebral- talvez paralisia do fluxo sanguíneo no cérebro-, ou falta de noção mesmo.
Mecanismo de defesa, será?
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(22.07)
*Que você siga decifrando cada uma das minhas pequenas transformações, como mágica. Que continue a ler em braile a invisibilidade das minhas aflições. Que queira me fazer feliz, não para mostrar aos outros o quão feliz é quem está ao seu lado, mas que o faça pelo simples prazer que sente em me ver sorrir.
*Encantadoramente espontâneo.
*Que continuemos a completar frases um do outro. Que consigamos desvendar intenções alheias em um só olhar, para que possamos nos proteger de qualquer forma não sincera de aproximação. Que saibamos o quão especial somos como indivíduos e o quanto isso nos torna uma conjunção escrita em caixa alta.
*Que eu saiba que um dia, dentro de um humilde embrulho, você queria me dar o mundo.
*Que meu olhar percorra cada parte do teu corpo e que leve consigo a suavidade do meu toque. Que eu descubra, conheça e decore-o em sua completa peculiaridade, para que – se longe – eu possa acessar sua anatomia em meus arquivos de memória afim de minimizar a angústia da saudade.
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*A ausência ocupa espaço, ocupa tempo, ocupa a cabeça, até demais. E faz com que a gente invente coisas, nos leva para tão próximo da total loucura quanto é permitido, para alguém em cujo prontuário se lê “sadio”. Ela faz a gente realmente acreditar que enlouquecemos. Ela nos deixa de cama, mesmo quando estamos fazendo todas as coisas do mundo. Todas e ao mesmo tempo. É o transtorno intermitente e perene de implorar por ‘um pouco mais’.
* Saudade não é olhar pro lado e dizer “se foi”. É olhar pro lado e perguntar “cadê?“.
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(30.03.2010)
*Tinha a impressão de que o amor se encontrava na barriga, não no coração.
Senão como explicar o calor incessante e o formigamento irritante que sentia no abdômen quando ele a surpreendia?
*Aquela sensação aos poucos começava a brincar de pegar dentro dela e mudava rapidamente de lugar: passava do estômago para os rins, dos rins para o intestino, dali para os pulmões (chegava a ficar sem ar) e logo já passava a apertar o coração contra o peito- dava até para senti-la segurando o sangue gelado que ali circulava,e quando o soltava ele batia desesperadamente como se quisesse fugir pela boca.
Aos poucos, também, fazia com que as mãos e as pontinhas dos dedos gelassem, suassem e tremessem, fazia a boca secar e, como se ainda não estivesse satisfeita de causar tamanha onda de mal-estar, insistia em obrigar a respiração acelerar e ofegar.
*Sentia-se ao mesmo tempo perdida e achada.
Tinha medo.
Não sabia o que fazer e sabia exatamente como fazer.
Sentia-se sortuda e preocupada.
*Sentia-se, mais do que tudo, absurdamente feliz.
Ela no seu mundo de sentimentos.
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De muitos anos:
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